Seria como a história de qualquer outro típico sertanejo de sua época: de um lado para outro em busca de melhores terras, chuvas, águas e oportunidades. A primeira parte desse diário narra a luta de um homem e sua família em busca da sobrevivência.
O autor, do alto de sua idade, foi capaz de descrever, na sua narrativa, a beleza do encanto das margens do Rio Jaguaribe em uma de suas viagens, apreciar a arte do engenho, que somente poucos possuíam a técnica no fazer de rapaduras, e se lembrar com precisão de preços dos mais variados produtos. Ainda ecoava, em sua privilegiada memória, o tipo de perseguição sofrida e, enfim, lembrava-se com uma riqueza razoável de detalhes ocorridos há muito tempo. Vale ressaltar que os dados históricos narrados foram checados, como por exemplo, anos com boas estações chuvosas ou secas, moedas, pragas, doenças, conflitos, revoluções e governos. Impressiona a precisão dos fatos narrados com a história já registrada!
Um fato mudaria a história desse homem. A reviravolta seria tão radical que a tônica da sobrevivência deixa de ser o principal elemento dessa narrativa e o regozijo da verdade encontrada passa a ter uma importância muito maior. Concomitantemente ao encontro com a verdade, nasce também um desejo enorme de a compartilhar. Está presente também um sincero desapontamento com seus antigos líderes religiosos que, em sua opinião, esconderam a verdade deliberadamente por motivos escusos.
Juca de Freitas (nascido em 18 de dezembro de 1887 e falecido em 20 de dezembro de 1982) foi um homem de muitos valores. Alguns deles destoantes com aquilo com que hoje se preza. Num mundo de individualistas, aqui se pode destacar o seu altruísmo. Boa parte de sua vida foi dedicada em compartilhar um tesouro valiosíssimo: Jesus Cristo. Ele o encontrara e desejava ardentemente que outros tivessem o mesmo prazer que ele teve. Agora suas andanças tinham ainda mais significado: propagar as boas novas com grande convicção ao seu próximo. A luta pela sobrevivência ganhara um papel coadjuvante ou considerado como não tendo mais muita importância de serem contadas às gerações seguintes. Esse é o Diário de Juca de Freitas!
Em um mundo capitalista, baseado no crescimento econômico e, consequentemente, do consumo, somos estimulados a consumirmos cada vez mais. Muitos acabam por cair em gastos excessivos, mergulhando-se em um espiral de dívidas. Juca de Freitas, ao contrário do espírito consumista de nossa época, optou por viver de maneira austera, conforme suas posses e sem pretensão de acumular bens. Viveu de maneira abnegada. Ele chegou até a rejeitar certas coisas que considerara como privilégio em sua vida. Mesmo sem buscar, ele acumulou tesouros preciosíssimos em uma pátria onde a traça jamais os corroerão e onde as incertezas e flutuações do mercado nunca os abalarão. Juca viveu confiando no Senhor e o buscou incessantemente. Embora não fosse sua intenção, ele amealhou para si riquezas incalculáveis que nem o homem mais rico de nosso tempo seria capaz de comprá-las com dinheiro!
Juca de Freitas foi também um idealista. Distante do proclamado pragmatismo atual, viveu conforme suas convicções não importando muito que consequências isso poderia lhe trazer. Ainda que sua fé trouxesse fortes inimigos, ele nunca esmoreceu. Mesmo enfrentado forte oposição, nunca desistiu de proclamar a verdade. Pelo contrário, a abraçou cada vez mais fortemente e dela jamais se desviou – num mundo desprovido de verdades ou com verdades demais, pois cada indivíduo tem a sua e seus referenciais. O mundo vive superficialmente e o que importa é o aqui e agora. Juca tinha crenças profundas e manejava habilmente a Palavra implantada em seu coração. Não é à toa que em poucas fotografias existentes dele, sempre se encontra com uma Bíblia na mão. Havia nele uma avidez por conhecê-la mais e mais!
Essa narração não encerra a história de Juca de Freitas. Apenas a inicia àqueles que se interessam por saber mais sobre alguém que encontrou a verdade, a propagou, influenciou pessoas e impactou gerações. A partir do seu trabalho foram transformadas várias vidas que ainda hoje frutificam em várias cidades e localidades do nosso país. Hoje, se fizéssemos um levantamento do impacto de sua pregação, constataríamos facilmente que milhares de pessoas entregaram suas vidas a Cristo como fruto de seu trabalho e, através da ação do Espírito Santo, dezenas de igrejas foram abertas e centenas de líderes foram formados. A vida desse homem não pode ser negligenciada. Ela deve ser conhecida, pois tenho certeza de que estimulará muitos a viverem ao lado de Cristo.
Esse Diário foi narrado pelo próprio Juca de Freitas e manuscrito pela sua filha Odeva Nogueira. Mais tarde, seu outro filho, Levi Nogueira, faria uma versão datilografada da narrativa e, atualmente, seu bisneto, Eduardo de Freitas Gonçalves, fez uma versão magnética tão mais apropriada para divulgá-la nos nossos dias. Em conversa com o Rev. José Antônio Lucas Guimarães (coorganizador), quando em visita a minha residência e ao ter contato com o material, surge o impulso, já idealizado, da publicação em livro do Diário de Juca de Freitas.
Espero que se deleitem com a verdade encontrada por Juca de Freitas. Aliás, a verdade é algo subjetivo atualmente e incapaz de gerar maior mudança nas pessoas, uma vez que cada um possui a sua. Na imensidão das muitas verdades, o mundo carece de uma: àquela capaz de transformar vidas e dar esperança a quem a ela se entrega.
Essa história não é uma apologia saudosista do passado. Ela é uma tentativa de que pessoas possam se sentir encorajadas a viverem a verdade que Juca de Freitas viveu. Nem tampouco é uma tentativa de evocar o modo de vida dos nossos ancestrais, pois cada geração deve responder adequadamente ao seu tempo. Pretende-se empolgar pessoas a viver a verdade que é Cristo!
Juca de Freitas foi um referencial formidável. Ele representa uma herança histórica extraordinária. Para que sua história não se dilua e, por fim, desapareça ao longo do tempo, faz-se necessário escrever sobre sua vida. Ele, em sua sabedoria, deixa um legado aos seus e a quem interessar. O seguir a Cristo de forma plena pode trazer aguerridos opositores incomodados com a mensagem transformadora e o modo de vida humilde e impactante. Mas certamente, como ele mesmo descreve, é o maior tesouro que alguém pode encontrar.
Caro leitor, espero que se deleite com o texto a seguir. Devo também dizer que o estilo literário da narrativa foi mantido e, portanto, não se buscou dar uma linguagem formal ao texto. Acreditei ser importante a manutenção de suas palavras tais como foram ditadas.
Eduardo de Freitas Gonçalves
É biólogo da CAGECE, presbítero da Igreja Presbiteriana Cenáculo (Fortaleza/CE), formado em Ciências biológicas (UECE/CE), mestre em Bioquímica e bisneto de Juca de Freitas.
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